23 de fevereiro de 2013

Crítica: musical baseado em 'Thriller' não dimensiona a real importância de Michael Jackson





RIO - O pop não poupa ninguém. Nem mesmo o Rei do Pop, Michael Jackson, que acabou virando o musical "Thriller Live Tour Brasil", cuja estreia brasileira, para convidados, se deu na noite de quinta-feira, no Citibank Hall. A adaptação do espetáculo inglês, com parte da equipe original e inclusões nacionais do elenco, sofre com todas as limitações imagináveis quando se trata de levar para o palco a


trajetória de quem nos palcos (no disco, na TV e no videoclipe) sempre superou a todos. Para o público carioca, que recentemente viu contemporâneos e discípulos de Michael fazerem de tudo um muito para manter lá na estratosfera o nível do showbiz (Madonna, Lady Gaga), "Thriller" deixa um gosto de videoquê: grandes esforços foram feitos, mas simplesmente não dá para reproduzir, com tão poucos recursos, o que o Rei significou e significa.

Linear, o espetáculo começa onde a história do cantor começa: com o grupo Jackson 5, e os sucessos "ABC" e "I want you back", e com "I'll be there", hit solo do Michael criança, recriado, ainda com um pouco de hesitação, pelo menino Isacque Lopes. Coreografias divertem e a banda inglesa se mostra (ainda por trás dos panos) competente, mas sem grandes brilhos. A fase The Jacksons surge com "Blame it on the boogie", hora em que o clima morno esquenta um pouco. Cumprindo a função de narradores da história, o brasileiro Renato Marx e os estrangeiros se alternam no português e no inglês legendado, causando certa estranheza. Mas a festa (e a narrativa) tem que continuar, com intervenções dos dançarinos, tentando adaptar o vocabulário coreográfico de Michael à tradição brasileira.

E assim se chega a "Off the wall", primeiro álbum de grande sucesso de Michael. onde começam a ficar evidentes os grandes problemas do espetáculo. O primeiro: como apresentar obras-primas absolutas do pop como "Rock with you" e "Don't stop till you get enough" sem cair nos perigos do cover ou nos fracassos da desfiguração? E o segundo: além de não ser das músicas mais significativas para o público brasileiro, a balada "She's out of my life" ainda padeceu com os excessos do vocalista Alexander Ko. Mas logo depois dela, vem um hit tardio dos Jacksons, "Can you feel it" e se encerra a primeira parte do espetáculo.

Nas segunda parte, como era de se esperar, vem a fase do disco "Thriller", na qual Michael subiu mais alto do que qualquer outro. E a de "Bad", repleta de hits. Um problemão, porque aí Michael, além do

canto e da dança, ainda tinha o videoclipe para potencializar o seu impacto artístico. Os cantores, músicos e dançarinos fazem o que podem, com escassos recursos cênicos além de uma passarela, paineis de led e a iluminação. Um dos guitarristas, por exemplo, fez direitinho o solo de Eddie Van Halen em "Beat it", mas sua entrada em cena nada acrescentou ao espetáculo. A lembrança dos tambores do Olodum até que foi simpática em "They don't really cara about us", ainda mais em se tratando de Brasil. Mas as reais virtudes do espetáculo surgem mesmo nos pequenos detalhes, como na junção dos dois balanços lentos "I just can stop loving you" (de "Bad") e "Human nature" (de "Thriller"). Nisso, o musical se justifica.

"Thriller Live Brasil Tour" segue em cartaz no Rio até o dia 7 de abril. Para quem não conhece Michael Jackson, ele tem o didatismo e a leveza necessários. Para quem quer um pouco de baile, pode até funcionar. Mas para quem quer entender a dimensão daquilo que o Rei do Pop construiu em 50 anos de vida, é melhor recorrer aos DVDs e livros.

Cotação: regular

Matéria originalmente publicada no jornal  OGLOBO por Silvio Essinger
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