16 de fevereiro de 2012

Thriller Live: Quero ser Michael Jackson

Adrian Grant e Michael em 1994
Musical 'Thriller Live', dirigido por amigo do astro, ganha montagem no Brasil com parte do elenco escolhido no país

As cenas poderiam ser de um reality show de TV como "American Idol", "Ídolos" ou "Astros". De um lado os candidatos, um tanto tensos, tentando provar seu talento; de outro, um júri atento, de não muitos sorrisos.

Só que, diferentemente do que ocorre nos programas, ninguém podia dançar e cantar a música que escolhesse, a que caísse melhor para seus movimentos e tons de voz: todos tinham que interpretar Michael Jackson (1958-2009).

Foi assim que, na semana passada, foram escolhidos em São Paulo cantores e dançarinos para compor o elenco de "Thriller Live", musical britânico que retrata a trajetória artística do ídolo pop.

Após circular por mais de 20 países, a montagem chega ao Rio e a São Paulo no segundo semestre, com data e locais ainda a confirmar.

Entre cantores e dançarinos, a produção brasileira recebeu cerca de 2.800 inscrições, das quais 700 foram selecionadas para a etapa final.

O diretor Adrian Grant -amigo de Jackson que teve o aval do cantor para montar o espetáculo- era um dos rostos sérios que acompanhavam a seleção. O resultado, afirma, foi surpreendente.

Elenco brasileiro de dançarinos de Thriller Live Brasil:
DANÇARINOS DO BRASIL
Pela primeira vez desde a estreia oficial em 2007, em Londres, nenhum dos dançarinos do elenco original de West End (a Broadway britânica) precisará sair de casa.

"O nível dos brasileiros é fantástico, e eles trarão uma grande energia para a produção", disse Grant, que escolheu 16 dançarinos entre os concorrentes.

Um deles foi Eric Santos, 26, que começou sua formação em um projeto de dança de rua em Santos. "Eu fui tranquilo para a seleção porque não acreditava que ia passar. Queria apenas poder conhecer o Grant e o [coreógrafo] Gary Lloyd", diz.

Quando saiu o resultado, "foi como a sensação de ganhar o Oscar, ou levar R$ 1 milhão no 'BBB'".
No caso dos cantores, a situação foi um pouco mais difícil, dada a pronúncia e o sotaque dos brasileiros.

Ainda assim, dois dos cinco cantores que interpretam o ídolo no musical foram escolhidos aqui, e a produção busca no país a criança que representará o pequeno astro do período dos Jackson Five.

"Nós não procuramos pessoas que o imitem com perfeição, mas gente que tenha um 'feeling' pela suas canções. Queremos apenas honrar a sua música."

Neste ponto, Grant reafirma o que diz ter sido sua grande motivação para criar o espetáculo: tirar a atenção das polêmicas que marcaram a vida de Jackson e focar no que realmente importa, "sua genialidade artística".

"Começamos a produção em 2006, com ele ainda vivo, querendo que as pessoas se voltassem para sua música, não para as manchetes escandalosas e exageradas que o envolviam. E é isso que o show faz", ressalta.

"Infelizmente, parece que só depois da triste morte de Michael a mídia voltou a falar de sua música e passou a respeitá-lo novamente."

Com cerca de duas horas e meia de duração, "Thriller Live" percorre cronologicamente a vida de Jackson, usando música e dança, sem se ocupar do aspecto pessoal.

Parceria da Broadway Brasil com o Future Group, o espetáculo terá investimento de cerca de R$ 7 milhões, para, segundo os produtores, manter a mesma infraestrutura com que o musical foi apresentado nos palcos ingleses.

'Não é loucura ter zoológico', diz criador da peça.
Criador e diretor de "Thriller Live", o escritor e produtor Adrian Grant conheceu como poucos a personalidade e a vida de Michael Jackson. "Ele era sempre generoso e sorridente, mesmo nos momentos difíceis", disse em entrevista à Folha.

Do fim dos anos 80, quando era só um fã, até a morte do cantor, Grant se aproximou de Jackson, entrevistou-o, escreveu livros sobre ele (como a biografia "The Visual Documentary", de 94) e presenciou gravações de discos clássicos como "Dangerous".

"Era impressionante vê-lo no estúdio, tanto pela potência da voz quanto pelo perfeccionismo. Ele aprendeu a lidar com aquilo desde os cinco anos."

Foi a partir da fixação pela música de Jackson que Grant decidiu produzir, em 1991, um show de tributo ao cantor, que foi o embrião do musical.

Ainda naquele período, Grant passou de admirador a amigo de Jackson, se tornando frequentador de Neverland, célebre rancho do astro na Califórnia.

Na primeira visita, segundo ele, logo que atravessou o portão viu chimpanzés brincando, com algumas girafas ao fundo.

"Comentei com o segurança que aquilo não era o mundo real, mas ele me respondeu que aquilo era, sim, a realidade para Michael. Era para isso que ele acordava todos os dias."

"As pessoas o achavam louco; mas, se você tem aquele dinheiro, não é loucura ter um zoológico, um parque de diversões", diz Grant, frisando o lado altruísta da iniciativa: "Não era só pra ele, ele levava crianças carentes e com deficiências para que todos se divertissem."

Fonte: Folha de São Paulo