VENEZA - Lançado em 1982, "Thriller" ainda é o maior sucesso da indústria fonográfica, com mais de 140 milhões de cópias vendidas no mundo. Além de consolidar o sucesso planetário de Michael Jackson (1958-2009), suas músicas e o estilo visual dos videoclipes que gerou viraram ícones da cultura pop. Mas, quando os detentores do espólio do cantor e compositor americano resolveram homenagear a força criativa por trás de sua personalidade extravagante, voltaram seus olhos para os bastidores de "Bad" (1987), trabalho igualmente seminal, porém menos bem-sucedido em vendagem.
"Thriller" chegou a ser cogitado por John Branca (executor do espólio de Michael Jackson). Mas optou-se por "Bad" por três razões: primeiro, por causa do lançamento, ainda recente, de "Thriller 25" (2008), edição comemorativa dos 25 anos do álbum; segundo, estavam à procura de um outro aniversário redondo; terceiro, e mais importante, embora "Bad" tenha sido subestimado na época, porque veio em seguida ao impacto de "Thriller", o disco simboliza o momento em que a carreira de Jackson se expandiu criativamente. Ele compôs nove das 11 canções. Isso não ocorrera com "Thriller", nem com "Off the wall" (1979) — explica Spike Lee, diretor de "Bad 25", documentário-tributo que fez sua première mundial no 69º Festival de Veneza, anteontem, no exato aniversário de 25 anos do lançamento de "Bad".
Trechos inéditos de estúdio
O filme, que terá estreia latino-americana no Festival do Rio (27 de setembro a 11 de outubro), oferece imagens reveladoras dos bastidores de criação do álbum, que vendeu pouco mais de 35 milhões de cópias mas alimentou a maior turnê de todos os tempos de um único artista — 4,4 milhões de pessoas em dois anos, US$ 128 milhões de arrecadação. Trechos inéditos das gravações em estúdio de hits como "The way you make me feel", e do making of de videoclipes de canções que ficaram famosas, como a da faixa-título, dirigida por Martin Scorsese numa estação de metrô do Brooklyn, se misturam a testemunhos de colaboradores, como o produtor Quincy Jones, e de artistas inspirados por ele, como Mariah Carey, Kanye West e um imberbe Justin Bieber.
Conhecido por sua sólida filmografia de afirmação da cultura negra, o autor de "Febre da selva" (1991) e "Malcolm X" (1992), que dirigiu Jackson no clipe para "They don’t care about us", do álbum "History" (1995), ambientado no Pelourinho, em Salvador, e no Morro Dona Marta, no Rio, não esconde que "Bad 25" é um filme de fã. Deixa de fora aspectos polêmicos como as acusações de pedofilia, as tentativas de tornar-se branco e a suposta homossexualidade, "assuntos já explorados demais pela mídia", diz. Prefere focar no Jackson artista, que desenhava o esboço dos figurinos dos seus personagens nos videoclipes, como o terno branco do gângster dos anos 30 de "Smooth criminal", e explicitava em notas para a produção os músicos ou dançarinos que o inspiraram para determinados trabalhos, como Fred Astaire, Gene Kelly e James Brown. O filme, no entanto, faz uma discreta referência à histórica rivalidade entre Jackson e Prince, que se recusou a participar do documentário. A faixa-título do álbum havia sido concebida como um dueto dos dois.
— Cheguei a tentar usar um trecho da participação de Prince no programa (de entrevistas) do Jay Leno, no qual ele era instado a explicar por que recusara a proposta de Michael, mas ele nos negou os direitos — conta Lee. — No programa, Prince lembra que a primeira frase de "Bad" é "Your body is mine" ("Seu corpo é meu") e responde a Leno que não dava para repetir uma coisa dessas olhando na cara de Michael.
Realizado a toque de caixa para acompanhar o lançamento de "Bad 25", edição comemorativa dos 25 anos do álbum que chega às lojas no dia 18, o filme forçou Lee a fazer uma pausa em "Go Brazil, go!", documentário sobre o Brasil do ponto de vista da população negra. Ele retorna no carnaval de 2013.
Até lá, começa a rodar "Old boy", refilmagem do violento hit sul-coreano dirigido por Park Chan-wook em 2003.
— É provável que eu não vá ao Rio para a exibição de "Bad 25", por causa da pré-produção de "Old boy", que começamos segunda — avisa.
Fonte: oglobo