24 de agosto de 2015

Casa no Pelourinho, onde Michael Jackson gravou, está à venda por R$1,1 milhão

Os cearenses Joserice e Marilac Rocha, fãs do astro, posam na sacada do casarão
O que você faria se tivesse com R$ 1 milhão sobrando na conta bancária? Se você não sabe, para  os fãs baianos do rei do pop, Michael Jackson (1958-2009),  talvez a resposta seja simples: comprariam o casarão azul em que o cantor gravou, em 1996, o clipe da música They don't care about us, no largo do Pelourinho.
Sim, o imóvel histórico está à venda, e os proprietários - um casal de italianos, segundo apuração de A TARDE  - só pretendem se desfazer dele por R$ 1,1 milhão.
Ladeado por outras construções com arquitetura semelhante - uma deles também  à venda, por R$ 600 mil -, o casarão fica próximo a pontos turísticos, como a Igreja do Rosário dos Pretos e a Fundação Casa de Jorge Amado. Ainda assim, ele se destaca e atrai turistas.
A sacada, com um banner do astro americano  e uma reprodução dele em tamanho real, é cenário certo nas fotos de quem passa pelo Centro Histórico.
A ideia de transformar o local em espaço de visitação foi do comerciante Carlos Alberto, 52 anos, morador do Pelourinho "desde o antigo Maciel", como ele  faz questão de frisar à equipe de reportagem.

Foto do arquivo de A TARDE mostra o dia de gravação (Foto: Wilson Besnosik l Ag. A TARDE l 10.02.1996)

A ideia
Ex-vendedor de cerveja, filmes, máquinas e pilhas - como mostra a antiga placa preservada na porta do andar térreo do imóvel -, o baiano começou a vender artigos referentes ao rei do pop ao perceber que aquilo podia dar dinheiro.
Chaveiros, camisas, sandálias, bolsas... Carlos Alberto passou a comercializar tudo que podia ter o rosto do cantor americano estampado. Colocou, ainda, um telão no local, onde o clipe de They don't care about us é repetido incansavelmente.
Ele paga um aluguel mensal aos donos da construção, mas não revela o valor nem aceita ser fotografado. O comerciante conta que notou o interesse dos visitantes e, na fala de uma criança, resolveu transformar a sacada em ponto turístico.
"Uma menina, uma criancinha, estava aqui comprando com a mãe e pediu para tirar foto na sacada. Aí, eu tive a ideia de fazer esse marketing. Quem compra qualquer coisa pode tirar a foto 'de graça' lá", relembra.
A iniciativa surgiu em 2008. Um ano depois, morria Michael Jackson, deixando um vácuo na música, mas aumentando o lucro de Carlos. "Foi aí que passou a ter mais visitante ainda", diz.



Futuro
O sorriso do comerciante cessa, entretanto, quando é questionado sobre o que vai fazer após a venda do imóvel pelos proprietários. Ele diz que "está ainda pensando" e fala com carinho do "ganha- -pão".
Para Carlos, o motivo da venda é a desvalorização do Centro Histórico de Salvador. "São muitos anos trabalhando aqui. Acho que  estão vendendo porque o Pelourinho não é mais como antes. Ninguém tem muito interesse, está descuidado", afirma.
A TARDE não conseguiu contato com os donos do casarão azul. O número informado na placa fixada nas grades da sacada foi acionado, mas ninguém atendeu às diversas ligações da equipe de reportagem.
Fã do rei do pop,  o casal de turistas cearenses Joserice e Marilac Rocha posou, nesta quinta-feira, 13, na famosa sacada do Pelourinho. Eles estavam ansiosos pela foto no ponto turístico. Antes, compraram chaveiros vendidos por Carlos Alberto.

Lembranças do dia de filmagem estão acesas na memória

Edmar Santos, hoje com 35 anos, tinha apenas 16 quando participou da gravação do clipe da música They don’t care about us. Ele, que é percursionista, tocava no Olodum à época e lembra, com clareza, da expectativa que se instalou no Pelourinho.
“Eu  só acreditei quando tivemos a oportunidade de vê-lo”, relata o músico, citando a comoção que tomou conta do local.
Edmar aparece em vários trechos do clipe. A roupa que vestia – calça verde, camisa branca do Olodum e boné com a paleta para trás –, ele lembra até hoje. São essas referências que ajudam a identificar o percussionista nas imagens da megaprodução do rei do pop.
A tomada em que aparece de forma mais visível pode ser vista aos dois minutos e 27 segundos da gravação.
Ele conta que, como músico, a oportunidade de gravar com Michael Jackson foi única. “No meio musical, todos queriam ter essa oportunidade, porque ele sempre foi referência”, afirma.
“Para quem tocava no Olodum, que sempre deu muita importância à dança, Michael Jackson era referência nesse quesito”, avalia.

Inusitado
Entre os momentos da gravação histórica, Edmar destaca os de descontração, como aquele em que uma fã baiana do cantor americano dribla o megaesquema de segurança montado no Pelourinho e  abraça-o. A cena foi parar no clipe.
“Nada daquilo foi programado. Nós ensaiamos muito as músicas, a batida, mas só isso. Ele parecia um menino em um parque,  divertindo-se com tudo”, lembra.
O comerciante Carlos Alberto, que trabalha no casarão em que o cantor gravou cenas do videoclipe, lembra que a ansiedade para a vinda do rei do pop era grande. Mas, à época, as pessoas achavam que não passava de boato.
Só perceberam que era verdade no dia, por causa do policiamento ostensivo que foi montado, ele conta: “Eu mesmo perdi tudo, porque não acreditei que ele viria e fui trabalhar”.

Imagens: Divulgação

Por: Yuri Silva/ttp://atarde.uol.com.br/