9 de março de 2015

Fui pupila do Michael Jackson

De tiete teen a pintora de obras de arte pra Neverland. Olha, a francesa Céline Lavail-Georgin, 36 anos, é gente que faz: decidiu que conheceria o Rei do Pop e mostraria a ele seus desenhos. Ela só não imaginava que... bem, leia e descubra! Depoimento a Bruna Fioreti, da Revista Glamour Online.




Numa tarde frugal de 1997, meu telefone toca. No instante em que ouço “Céline?”, reconheço a voz suave do outro lado da linha: é o Michael! Sim, Michael Jackson, a lenda, o autor de Thriller e Bad, o criador do moonwalk, me ligando pra conversar sobre arte. Perco o chão, quase perco a voz... Mal sabia eu que aquele seria o primeiro de muitos papos que teríamos. É que Michael foi meu mentor artístico dessa data até sua morte, em 2009. E como isso aconteceu é uma história meio surreal...

Antes de tudo, deixe me apresentar: sou francesa, tenho 36 anos e moro em Paris. Estudei inglês, espanhol e marketing – e é com isso que trabalho hoje (sou gerente de comunicação do cinco-estrelas Fouquet’s Barrière, na Champs-Elysées, há três anos). Como dá pra notar, nunca estudei arte propriamente. Mas a pintura sempre esteve presente na minha vida. Tanto que, aos 17 anos, eu estava bem confiante da qualidade dos meus desenhos – e resolvi que era hora de mostrá-los a alguém importante. Como eu tinha ouvido falar que Michael Jackson era aficionado por arte – e eu era sua fã #1 – resolvi que seria pra ele.

“Você tem um dom”, Ele me disse

Foi em maio de 1996. Fiquei sabendo que o Michael estava hospedado em Monte Carlo pra participar do World Music Awards e bolei um plano infalível: reservar um quarto no mesmo hotel que ele (gastando todo o dinheiro que eu tinha, óbvio) pra tentar mostrar a ele minha arte. Meus pais, sabendo da minha loucura pelo Michael, permitiram que eu viajasse... Dias depois, lá estava eu no lobby do hotel, abordando todo o staff dele que passava por mim! Os seguranças me diziam pra entregar os desenhos pra eles mesmo, mas, imagina, eu não aceitava! Foram horas plantadinha ali, na esperança de o meu ídolo passar. E na maior tensão, porque no dia seguinte eu iria embora...

Quando já estava deixando o hotel, avistei o chefe de segurança do Michael e, mesmo com dor no coração, decidi entregar minhas ilustrações. Aí... adivinha? Dez minutos depois, o mesmo segurança apareceu no lobby e disse que Michael queria me ver. Inacreditável! Tremendo, fui conduzida à sua suíte. Nunca esqueço o Michael ali, em pé, sorrindo, olhando pra mim, em meio a livros, brinquedos, balões e presentes... Aquilo me fez esquecer o pouco inglês que sabia na época. Arrisquei: “Fiz uma coisa pra você”. Michael olhou os desenhos – eram uns cinco esboços inacabados. “Você estuda arte?”, perguntou. Eu disse que não, e ele começou a bater palmas! “Você tem um dom! Vem de Deus. Você tem que abraçar esse dom e alimentá-lo. Continue criando, quero ver mais”, disse. Nos despedimos – eu tipo atônita! – e um membro da equipe me deu um pedaço de papel com o nome, o telefone e o fax (fazia sentido em 1996, gente!) do assistente pessoal do Michael. “O Sr. Jackson adoraria ver mais trabalhos”, me disse. Fui embora com a cabeça a mil!

E vieram as encomendas...

A partir daí, passei a enviar esboços pra Los Angeles sem saber direito se Michael os veria. Meses depois, comecei a receber seus retornos via assistente pessoal, com dicas e palavras de inspiração. E um ano e meio mais tarde veio enfim a ligação que descrevi no início! Eu havia mandado uns esboços de personagens da Disney e ele me pediu mais criatividade: “Faça algo inédito!”. Me orientou a estudar grandes artistas – Michael sabia tudo de arte clássica, colecionava livros sobre o tema e ia muito a museus nas suas viagens, lógico que sempre depois dos horários de visitação. Segui seus conselhos e fui explorar os museus de Paris. Em 1999, decidi que já era hora de mostrar ao Michael minha nova obra: uma imagem sua como Peter Pan. Ele estava no Ritz, em Paris, e consegui marcar uma visita. A reação dele quando viu o desenho foi, uau, inesquecível! Arregalou os olhos, me deu um abraço apertado e disse, rindo: “Adoro o Peter Pan, eu sou o Peter Pan!”. Ah, essa pintura seria reproduzida depois nos carrinhos que ele usava pra dirigir pelo rancho Neverland. Depois disso, vieram muitas outras encomendas. A mais marcante delas, ele próprio descreveu assim: “São bebês que estão me adorando com amor e afeição, o que representa paz, amor e a harmonia de todas as raças”. Essa obra deu início a uma série de telas pra Neverland chamada Inspiração – tudo devidamente pago pela equipe do Michael, claro.

Resumindo nossa relação

Nossas conversas eram sempre sobre arte, mas ele também adorava saber do meu dia a dia e de como era viajar pra vê-lo (fiz isso algumas vezes). Chegou até a reclamar dos paparazzi pra mim uma vez! Se pudesse resumir nossa relação, citaria um encontro que tivemos em 2007, em Londres, no qual falamos de Michelângelo – um dos seus artistas favoritos—e de como a obra dele transcendia. Ao se despedir, Michael me entregou um papel no qual estava escrito: “Sei que o criador vai, mas sua obra sobrevive. É por isso que, pra escapar da morte, tento vincular minha alma ao meu trabalho”. “Michelangelo disse isso”, me explicou. Mas bem que podia ter sido o próprio Michael... Nos encontramos pela última vez também em Londres, em março de 2009. Fiquei em choque quando vi as notícias da morte dele no dia 25 de junho... Recebi muitas ligações de amigos, foi um horror! Ali eu perdia meu ídolo, meu mentor, a pessoa que mais me abriu portas na vida (porque ter trabalhado pro Michael fez várias big empresas se interessarem por mim também na área de marketing). Mas o que ele me deu ninguém tira: Michael Jackson me fez acreditar pra sempre que não existe sonho impossível.

Michael (Foto: Arquivo Pessoal)

Fonte: http://revistaglamour.globo.com/