17 de maio de 2011

Diretor-gerente do FMI contrata advogado que defendeu Michael Jackson

Poucos advogados criminalistas conhecem o sistema legal de Nova York tão bem quanto Benjamin Brafman, famoso por ajudar celebridades com problemas sérios e o escolhido por Dominique Strauss-Kahn para defendê-lo das acusações de tentativa de abuso sexual feitas pela funcionária de um hotel de Nova York.
O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional) foi retirado de dentro de um avião da Air France no aeroporto JFK, no sábado (14), após ser acusado de ter abusado sexualmente de uma camareira no hotel Sofitel, na Times Square.
Allison Joyce/Reuters
Benjamin Brafman, advogado de Strauss-Kahn baseado em Nova York; diretor-geral do FMI nega todas as acusações
Benjamin Brafman, advogado de Strauss-Kahn baseado em Nova York; diretor-geral do FMI nega todas as acusações
Brafman é conhecido pelas causas ganhas nos tribunais americanos e por negociar bons acordos para seus clientes.
Ele representou o cantor Michael Jackson em um caso de abuso sexual de menores, em 2004. Também foi advogado do astro do futebol americano Plaxico Buress, acusado de entrar em uma boate com uma arma que disparou quando caiu da calça dele.
Brafman ainda tem no currículo ter conseguido inocentar o rapper "P. Diddy" Sean Combs (ex-Puff Daddy) das acusações de porte ilegal de arma e suborno em uma briga de boate e tiroteio que foram testemunhados por mais de cem pessoas.
"A maioria das pessoas que vêm a mim o faz em situações realmente desesperadoras", disse Brafman, de 62 anos, em uma entrevista recente para um grupo de estudantes de direito.
ESTRATÉGIA
Brafman, que representa Strauss-Kahn junto com o advogado de defesa William Taylor, de Washington, disse que seu cliente vai alegar "inocência".
Brafman foi promotor-assistente do distrito de Manhattan durante quatro anos antes de abrir seu próprio escritório em Nova York, onde ficou famoso pela grande clientela de celebridades.
Para o jogador Burress, que teria que passar pelo menos três anos e meio na cadeia, Brafman negociou um acordo que limitou a condenação a dois anos.
Ele também conseguiu a absolvição do famoso rapper. "Senhoras e senhores, esse é Sean 'Puff Daddy' Combs", disse ele durante aquele julgamento, de acordo com um livro sobre Combs, chamado "Bad Boy".
"Vocês podem chamá-lo de Sean. Vocês podem chamá-lo de Mr. Combs. Vocês podem chamá-lo de Puff Daddy. Vocês podem chamá-lo simplesmente de Puffy. Mas vocês não podem chamá-lo de culpado", disse Brafman aos jurados.
Muitos casos em que Brafman trabalha não chegam aos tribunais. Durante vários anos ele representou o fugitivo internacional Viktor Kozeny. Em 2005, os promotores federais acusaram Kozeny de subornar funcionários do governo do Azerbaijão em um acordo de privatização da empresa estatal de petróleo. Mas os promotores têm sido incapazes de extraditá-lo das Bahamas. Não está claro se Brafman ainda representa Kozeny.
COLARINHO BRANCO
Brafman disse que foi chamado para representar Strauss-Kahn por Taylor, um sócio da firma Zuckerman Spaeder, especializada em defesas de crimes de colarinho branco, em Washington.
Taylor e Brafman tiveram um papel importante na acusação dos advogados de ações coletivas da empresa conhecida anteriormente como Milberg Weiss, que foram acusados de subornar os reclamantes.
Taylor representou a empresa, que conseguiu escapar da condenação, enquanto Brafman representou um dos seus fundadores, Mel Weiss, que se declarou culpado e foi sentenciado a 30 meses de prisão em junho de 2008.
Em uma recente entrevista à Lawline.com, um site jurídico, Brafman disse que ele se tornou especialista em manter seus clientes "vivos e funcionando" enquanto o mundo desmorona ao seu redor.
"Acho que já convenci mais pessoas a não cometerem suicídio do que qualquer psiquiatra no mundo", disse.
ENTENDA O CASO
As acusações que Strauss-Kahn enfrenta, segundo a polícia americana, incluem "agressão sexual, retenção ilegal e tentativa de estupro de uma camareira de 32 anos em um quarto de hotel em Nova York.
Stephen Chernin/France Presse - 14.mai.2011
O hotel Sofitel, em Nova York, onde Dominique Strauss-Kahn supostamente tentou abusar sexualmente de uma camareira
O hotel Sofitel, em Nova York, onde Dominique Strauss-Kahn supostamente tentou abusar sexualmente de uma camareira
O francês foi preso no sábado após ser retirado por policiais da primeira classe do voo da Air France que ia para Paris minutos antes da sua decolagem. Ele iria se encontrar neste domingo com a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel.
De acordo com o sub-comissário de polícia de Nova York, Paul Browne, ouvido pela emissora CNN, Sreauss-Kahn apareceu nu quando a funcionária entrou em seu quarto para limpá-lo, por volta das 13h do sábado (14).
Browne disse que Strauss-Kahn tentou abusar da mulher mas ela conseguiu fugir e correu até a recepção do hotel. Os funcionários alertaram a polícia mas, quando os agentes chegaram ao hotel, o chefe do FMI já havia fugido para o aeroporto, deixando no quarto alguns objetos pessoais, entre eles seu telefone celular.
HISTÓRICO
Não é a primeira vez que Strauss-Kahn se vê envolvido em polêmicas deste tipo. Em 2008, pouco depois de assumir o comando do FMI, ele assumiu ter tido um caso com uma funcionária do organismo, a economista Piroska Nagy, casada com um ex-presidente do Banco Central argentino.
Karen Bleier/France Presse - 12.out.2008
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, foi preso no sábado nos Estados Unidos, acusado de abuso sexual
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, foi preso no sábado nos Estados Unidos, acusado de abuso sexual
Na época, Strauss-Kahn admitiu "um erro de julgamento" por conta do caso.
Ainda que não tenha anunciado a sua candidatura, Strauss-Kahn, que é membro do Partido Socialista francês, aparece nas pesquisas como o principal rival do atual presidente Nicolas Sarkozy nas eleições à Presidência da França, marcadas para abril do ano que vem.
Números divulgados no início de maio apontam que o chefe do FMI, que ainda não confirmou se vai concorrer, teria 23% dos votos no primeiro turno contra 17% para a líder da extrema-direita Marine Le Pen e 16% para Sarkozy.
O próprio apoio de Sarkozy para a sua candidatura ao FMI foi visto como uma manobra para afastá-lo da corrida presidencial.

Fonte:folha.com