9 de abril de 2011

Nossa dor e responsabilidade

Sepultamos nossas crianças. Mas não nossa indignação.
Amparamos os feridos. Mas jamais uma ação contrária em relação àqueles por quem somos responsáveis. Nossos filhos, sobrinhos, afilhados, alunos, vizinhos...desconhecidos. Até onde vai nossa responsabilidade, em relação às crianças deste mundo? Acho que vai muito, muito longe.
Nossos atos não cuidados por um segundo podem resultar em futuros adultos feridos profundamente. O enigma permanece. Em que pode resultar uma ferida como esta? Que canais um ser humano pode chegar a utilizar para exteriorizar cargas emocionais tão pesadas, carregadas dolorosamente por uma vida inteira? Todos nós somos um mistério em potencial. Ninguém é capaz de detectar o ponto em que alguém transforma uma dor, um sentimento mal resolvido em uma psicose, em um transtorno tão grave a ponto de querer colocar fantasias sórdidas e cruéis em prática. Deflagrada esta ação, como no rompimento de uma represa, só por pura sorte qualquer um de nós não será sua presa. E a essa vítima, de forma, geral, está destinado um final trágico, a imposição de um grande sofrimento, a necessidade de que esta sinta o tamanho exato da raiva, do ressentimento do algoz.
Não desejamos ser vítimas. Não desejamos que nossos entes queridos estejam na mira do ódio de alguém assim. Todos os que perderam essas crianças na Escola Municipal Tasso da Silveira, aqui no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira, não imaginavam passar por isso em um ambiente destinado à educação.
Por isso mesmo, passou da hora de tratarmos desse tema de forma mais responsável, intensa, rígida, sem permissividades, comumente em nome de coisas vazias. Devemos retomar discussões, reelaborar pensamentos, reformular conceitos. Até que ponto o discurso que vemos fácil sobre tolerância não está absurdamente em conflito com a enorme e real intolerância dentro do nosso convívio diário com toda a comunidade, começando pelo próprio núcleo familiar?
A EDUCAÇÃO cabe a todos nós. Somos todos educadores, modelos, multiplicadores. É preciso, é urgente a tomada de decisões sobre armamento, sobre drogas, sobre sexualidade, sobre relacionamento, sobre posturas de pais e professores, sobre ética na internet, nas escolas, na programação da TV, no comércio, em nossas casas.
Governo, sociedade... caminhamos todos juntos. Nosso desejo de ter uma sociedade justa tem que passar do campo teórico para o concreto através de nossos atos diários. Não há mais espaço para apenas se usar a palavra “paz” em camisetas e faixas. Muitos estão lutando verdadeiramente por causas assim há anos e ainda sofrem tremendamente,pela morosidade das ações da justiça, do nosso legislativo. Temos que engrossar este coro, fazer com que este grupo seja um imenso mar que avança, cobrindo todo o território deste, que é o melhor país do mundo!
De imediato, lembrei deste trechinho do documentário “Living With Michael Jackson” feito pelo jornalista britânico Martin Bashir.
Com a voz embargada, Michael começa:
"As pessoas nem sequer comem mais com seus pais...ou suas mães.
A estrutra familiar foi quebrada ... é um grito por atenção , porque crianças estão indo para a escola com armas ... elas querem amor, querem ser tocadas, querem ser controladas. Com seus pais trabalhando fora .. tendo que deixá-las em casa no computador e elas simplesmente fazem o tipo de coisas malucas , e isso está destruindo o nosso mundo!
Precisamos criar vínculo novamente ... isso é muito importante, Martin!"
Bashir: “Por que isso significa tanto para você?”
MJ: “Eu sou muito sensível à sua dor, eu sou muito sensível à família ...à condição humana ... e esse assunto ... isso significa muito para mim. E eu quero ajudar sempre que posso.”

Na época deste documentário, o massacre na Escola Columbine, no Colorado, Estados Unidos, havia acontecido 3 anos antes.




Por Angella Wains