13 de março de 2011

Por Trás das Câmeras com Sandrine Orabona

Numa manhã de novembro de 2009, o escritor e documentarista americano, atuante na indústria do entretenimento, Trey Borzillieri, foi ao cinema conferir o recém lançado “This is It”.

Revestido pelo sentido profissional, Borzillieri não contava com o que o filme/documentário iria causar nele próprio.

Ainda sob o impacto do que viu, ele conversou com Sandrine Orabona, cinegrafista que registrou as imagens de Michael.

Por Trey Borzillieri

Claramente, This Is It de Michael Jackson tem vida própria. Eu assisti ao filme às 10h30 e me surpreendi. Eu estava esperando que o cinema estivesse vazio em um início de manhã. Estava lotado. Eu também esperava que a plateia começasse a dançar nos corredores. Não foi o caso.

Minhas expectativas estavam totalmente furadas. Alguns minutos depois do início deste inacreditável filme, lágrimas brotaram dos meus olhos e começaram a correr pelo meu rosto. Eu deixei de lado o saco de pipocas já pela metade e meus guardanapos se transformaram em lenços.

Eu sei que não estou sozinho quando digo que Michael Jackson esteve ausente da minha vida... uma vida da qual ele foi parte muito importante há muitos anos atrás. Lembro-me de ter sido suspenso no 3º ano, por ter usado uma versão verde e roxa de sua luva de lantejoulas, feita pela minha mãe. “Tempo longo” é uma boa maneira de descrever o que Michael Jackson representa para muitos de nós.

No documentário This Is It, ELE ESTÁ DE VOLTA!! UAU!!

Da primeira música do filme, Wanna Be Startin' Something, o talento, emoção e amor de Michael Jackson te atingem, não importa qual seja sua idade. Se você for da geração de Michael, então é rapidamente impulsionado a fazer uma breve análise de toda sua vida. Uma espécie de avaliação, desde a última vez em que viu um homem assim.

Então, vem o turbilhão de emoções acompanhadas pelo curso da música... passado, presente... e o fato de saber que você o está vendo pela última vez. Guardanapos se transformam em lenços novamente. Enquanto eu enxugava minhas lágrimas, chocado e envergonhado, eu levantei minha cabeça para dar uma olhada no restante da plateia. Parecia que todos estavam tendo uma experiência parecida com a minha. Impossível assistir a este filme sem o impacto da comoção,da admiração. É quase como se nós tivéssemos sidos destinados a ter esta obra final de Michael Jackson.

This Is It é agora o documentário de maior bilheteria na história. Por trás das câmeras, capturando esses momentos reveladores, especiais e finais com Michael Jackson, estava a cinegrafista Sandrine Orabona. Ela é uma “pequena” documentarista ,se compararmos à escala épica que o filme representa agora em todos os níveis. Enquanto o mundo compartilha destes momentos com Michael neste extraordinário documentário, imagine só o que deve ter sido estar a menos de dois metros de distância, vendo O MAGO em ação! Por favor, nos conte, Sandrine.

Trey Borzillieri: Eu acabei de assistir This Is It.

Sandrine Orabona: E o que você achou?

TB: Eu fiquei maravilhado. Achei que eu só estaria ali pelos negócios. Então o filme me pegou e eu fiquei um “desastre”.

SO: Um desastre, assim...chorando?

TB: Eu comecei a chorar e chorar e chorar.

SO: Você sabe quantas pessoas já disseram isso pra mim?

TB: Logo na primeira música...

SO: Wanna Be Startin' Something.

TB: Sim, sim, quero dizer, eu não estava esperando nada naquilo. Eu acho que foi uma combinação da vida dele, o que ele representou na minha vida, seu talento e o fim de tudo isto.

SO: Eu estou tão feliz por ter sido uma documentarista sobre ele e por apenas ter estado em sua presença. Eu acho que o que o diretor, Kenny Ortega, foi capaz de fazer foi captar a emoção que todos nós sentíamos quando estávamos lá durante os ensaios. Todos da equipe foram maravilhosos em suas funções. Nós nos sentíamos tão abençoados e felizes por estarmos no projeto e estar perto deste homem , por causa de tudo o que ele representa, por quão extraordinário ele é como músico, como artista e apenas estar no mesmo lugar que ele enquanto ele ensaiava cantando,dançando ou se movia através de seus passos. Só pelo fato de acompanhar seu processo todos os dias, fazia com que eu chegasse em casa e ficasse assim: "Eu não acredito que sou parte disto, eu não acredito no que vivi hoje". E todo mundo sentiu isso. Meu amigo Chucky, usando a jaqueta verde, é um coreógrafo premiado, vencedor do Emmy. Ele ganhou um Emmy por coreografar os filmes do High School Musical com o Kenny Ortega. Ele deixou um projeto grande para fazer um teste como dançarino sem garantias de que ele seria um dos dançarinos. Ele conseguiu o emprego e todo dia ele olhava pra mim e dizia, "Eu não acredito que estou vivendo isso". Agora, esse é um cara que não é apenas um dançarino, mas um coreógrafo vencedor do Emmy, então não foi um sentimento exclusivo de algumas pessoas, todos sabiam o quão maravilhosa essa experiência era. Eu acho que ela foi realmente captada no filme.

TB: Sim, ela foi. Você descreveu o que me pegou tão forte no filme... todo mundo se sentindo tão privilegiado por estar lá e valorizando tanto isso. Do mesmo modo, era como um flashback para alguém que esteve afastado de sua vida musical, ausente de ser a pessoa que nós conhecemos em termos de performance e...

SO: Você quer dizer em relação ao retorno dele?

TB: Bem, este era o começo do retorno dele, então ele estava ausente dos palcos por um longo tempo e o filme deixa você conhecê-lo novamente, faz você apreciar o talento dele novamente e aí, no fundo da sua mente, você sabe que ele se foi... e isso se torna um soco enorme para a plateia que não pode fazer nada além de se deixar afetar quando assiste ao filme.

SO: É realmente uma obra poderosa, por conta de tudo o que você disse. E eu acho que foi realmente importante o Kenny escolher mostrar a experiência que vivíamos no momento, o filme não foca o fato dele ter falecido porque já é compreendido. Eu acho que o poder dele é tirado da experiência que vivemos e por se concentrar nela, as pessoas podem se apegar essencialmente ao que vivemos (durante os ensaios). Um amigo meu me disse, "Eu senti como se tivesse um assento na primeira fileira para esta experiência". E eu respondi: "Isto é porque eu tive". Eu estava lá. Se você sente, sentado em sua poltrona, que Michael Jackson está cantando Billie Jean há dois metros de distância é porque ele de fato cantou Billie Jean há dois metros de distância de mim. Se você sente aquele poder emanando da tela, você pode imaginar o que eu senti no palco quando aquilo estava acontecendo. E você pode ver isto também... tem um bom número de pessoas lá, eu ligo a câmera e tem umas quinze pessoas da equipe e dançarinos no chão assistindo e eles não podem acreditar no que estão vendo. Aquilo foi a experiência.

TB: Você pode descrever o que sentiu naquele momento?

SO: É exatamente o que você fala sobre a experiência de ir assistir ao filme. É como se, geneticamente, todos tivéssemos Michael Jackson dentro de nós. De uma maneira ou outra, por conta do modo como crescemos com ele. Nós escutamos a sua música e percebemos que gênio este homem era. E também nós (a equipe trabalhando no projeto) somos todos profissionais e valorizamos isso ainda mais como dançarinos, músicos, como documentarista. Nós entendemos ainda mais este lado. E então, de repente, tudo isso vêm à sua cabeça e você pensa: "Eu estou assistindo um cara que eu já vi na TV, que eu gostei à distância, fazendo o que ele faz de melhor a dois metros de mim." E eu tenho esta equipe atrás de mim se sentindo da mesma forma e a única razão pela qual eu não podia dançar como eles era porque eu estava segurando a câmera. Tantas vezes eu me peguei dançando enquanto filmava. O baixo de Thriller simplesmente percorre você inteiramente.

TB: Um momento muito legal foi quando ele fez vocalmente uma coisa da guitarra no ensaio de Wanna Be Startin' Something para mostrar como deveria ser feito. Ele fez o som da guitarra tão bem e por tanto tempo que realmente parecia o som de uma guitarra de verdade.

SO: Assistir a um processo de um artista assim... eu estava maravilhada. Para lendas como Michael Jackson ou Martin Scorcese, apenas estar em volta do processo deles e absorver como uma esponja é um aprendizado. Assistir essa gente trabalhando é como uma dádiva.

TB: Algum comentário sobre o processo a que você assistiu enquanto filmava?

SO: Todo mundo que estava no show, como Kenny Ortega, Michael Bearden, Travis Payne e Michael Bush. São todas pessoas que estiveram com Michael por um longo tempo e também são grandes artistas em seu próprio mérito. Há um tipo de gíria criativa que eles preferem usar do que todos aqueles jargões técnicos. Como quando Michael diz, "faça soar como se você estivesse se arrastando para fora da cama". Imediatamente evoca uma reação emocional e você pode então traduzi-la na música que você está fazendo e eu achei realmente que era um método maravilhoso de transmitir aquela emoção.

TB: Ele tinha dias ruins?

SO: Não. Por causa do alto nível de energia que todo mundo compartilhava, eu mesma não tinha meus dias ruins. O que você vê era o que acontecia todos os dias nos ensaios. Todo mundo estava realmente concentrado em criar este show maravilhoso.

TB: Algo também que me veio à cabeça... as mãos dele. Elas simplesmente saíam da tela, como mãos de um mágico; estavam em todo lugar.

SO: Eu estava tão concentrada na minha pequena tela [da câmera] que eu nunca percebi isto mas algumas pessoas já mencionaram pra mim.

TB: Uma das minhas partes favoritas do filme foi quando ele começa a trabalhar em Human Nature, a criatividade e a espontaneidade daquilo tudo.

SO: É disto que estou falando. Esse é o tipo de criatividade que inundava o palco todo. Foi um espaço muito criativo para todos os envolvidos. Todos os músicos eram excelentes.

TB: Todo mundo estava concentrado e pronto para fazer seu melhor.

SO: Bem, você não ia conseguir esse tipo de emprego sem isto. Todo mundo estava incrivelmente feliz por fazer parte daquilo. Agradecidos.

TB: Eu estava esperando que as pessoas dançassem no cinema, mas eu poderia até escutar grilos. Parecia que a plateia estava em choque, emocionada e agradecida por poder assistir.

SO: Pessoas diferentes têm experiências diferentes; eu acho que depende da platéia. Eu já o assisti algumas vezes e todas elas foram muito diferentes. Com a equipe foi como reviver toda a experiência. Eu já assisti com uma plateia que dançou e também com uma como a que você descreveu. Eu vejo coisas novas toda vez que o assisto.

TB: O filme é importante, graças a Deus vocês estavam lá para filmar. Caso contrário, talvez nunca mais tivéssemos algo assim com Michael Jackson.

SO: Foi uma das coisas que tornou o filme tão importante pra mim na época. O fato de que eu pessoalmente nunca havia visto algo do gênero. Eu nunca havia visto este lado de Michael Jackson. Até hoje eu continuo tratando o filme como um incrível presente. Eu acho que muitas pessoas se sentem assim agora, após assistirem ao documentário.

TB: Uma pergunta aleatória - ele usava uma camiseta com o Popeye apostando em um certo momento.

SO: Esta foi de Michael Bush. É a incrível arte de Michael Bush.

TB: Era figurino dos ensaios? Ou roupas do dia-a-dia dele?

SO: Michael Bush vestia Michael Jackson. Sempre.

TB: Como foi que todo mundo lidou com a notícia de seu falecimento?

SO: Foi uma dia muito difícil. Na verdade, eu estava lá, filmando no momento e quase derrubei a câmera. Eu estava filmando de joelhos e fiquei tão chocada e emocionada que disse, "Ok, eu acho que vou desmaiar". Mas eu não podia porque eu tinha de filmar. O modo que posso descrever isto é... o mundo todo estava de luto naquele dia, imagine como foi então no espaço dos ensaios. É muito difícil lembrar disso. Eu sinto como se fosse uma experiência extracorpórea.

TB: Você foi fã dele ?

SO: Quem não foi? Mas eu devo dizer que sou ainda mais agora depois de ter feito isto e observá-lo como profissional.

TB: Quem é você?

SO: Uma documentarista, mais especificamente uma documentarista musical. Uma documentarista, cinegrafista e editora.

TB: Mal posso esperar para ver seus próximos projetos. Obrigado.

Fontes: The Huffington Post

Arquivo MJ

Trad: Bruno Couto Pórpora e Angella Wains