21 de fevereiro de 2011

Interpretando Billie Jean, Caetano Veloso lança CD e DVD e vira enredo da escola Paraíso do Tuiuti

Para o eterno doce bárbaro, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. A música ‘Dom de Iludir’, que possui o verso e foi escrita pelo próprio, não está no CD e DVD ‘MTV Ao Vivo — Caetano Zii e Zie’ (Universal) — o lançamento oficial é amanhã —, mas que serve como uma luva para descrever o momento atual do cantor, isso serve. “A gente fica velho e começa a se importar menos com a opinião das pessoas. Não preciso provar que estou certo. Se falam ‘ele disse que Lula é analfabeto, ele agora é de direita, é viado ou não é viado?’, eu não ligo!”, avisa ele, despreocupado. “Mas isso não quer dizer que abri mão da minha luta crítica. Dada a oportunidade, eu combato, como fazia quando tinha 25 anos”, brinca.

Mesmo próximo dos 70 anos que completa em 2012, Caetano Veloso confessa que não liga para a data — “ainda falta muito!” — e está cheio de projetos. Entre eles, um terceiro disco com a banda Cê e direção musical do aguardado novo trabalho de Gal Costa, prestes a sair do forno. “O disco dela será predominantemente eletrônico. Todas as composições são minhas. Quero também fazer uma trilogia com a banda Cê (formada por Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes)”, adianta ele, que será homenageado pela Paraíso do Tuiuti no Carnaval deste ano. “É uma escola modesta e muito bacana. Mas ainda não resolvi se fico no Rio para o Carnaval ou vou para Salvador”, diz ele, feliz da vida com o samba-enredo ‘O Mais Doce Bárbaro — Caetano Veloso’.

No novo DVD, em que mistura canções do álbum ‘Zii e Zie’ com músicas de várias fases da carreira, Caetano resgata duas clássicas que ainda não tinham sido eternizadas ao vivo: ‘Irene’ e ‘Maria Bethânia’. “A primeira, fiz dentro da prisão, sem violão. Eu estava muito mal lá. A minha irmã Irene tinha 14 anos e a risada mais gostosa e agradável. Irene ria muito e fiz para ela. Já ‘Maria Bethânia’, foi no exílio. Já cantei com Beck em Los Angeles. Todos a acharam maravilhosa. Muito do que a gente fez naquele período passou a ser conhecido mundialmente só nessa última década”, lembra.
Embora adore as suas próprias canções, Caetano também gosta de encaixar em seu set list músicas de outros artistas. Desta vez, ele recriou ‘Billie Jean’, de Michael Jackson, ‘Volver’, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, e ‘Água’, de Kassin. “Gosto mais de cantar músicas dos outros. Eu sempre faço ‘Eleanor Rigby’ (dos Beatles) no final de ‘Billie Jean’. É uma crítica a Michael, ‘I look at all the lonely people’ (Eu olho por todas as pessoas solitárias). Quis cantar de novo porque ele morreu. Fiquei sentido, irritado, foi frustrante”, desabafa ele, que já havia gravado a faixa em 1987.


CONFIRA UM VÍDEO COM A INTERPRETAÇÃO DE CAETANO



'Transa' ao vivo

Além de gravar um terceiro álbum com a banda Cê, Caetano cogita, para o ano que vem, atender ao pedido “Queremos ‘Transa’, do Caetano, ao vivo”, do aplicativo criado no Facebook por fãs do clássico álbum de 1972, que completa 40 anos. “Adoro isso! Faria, sim. Fui ao show do Jorge Mautner, no Circo Voador, e uma menina gritou isso. Não imaginava que estava tomando essa proporção. Poderia fazer com as mesmas pessoas: (Jards) Macalé, Tutti Moreno e Áureo de Sousa. Acho que eles topam. Só tenho pena do Moacyr (Albuquerque) não estar vivo. Podemos chamar a banda Cê e outras pessoas. Todo mundo sente falta de ‘It’s a Long Way’. Vou cantá-la”, promete ele.

Confira a letra do samba-enredo

‘O MAIS DOCE BÁRBARO — CAETANO VELOSO’
( Eric Souza, Elton Divino, Rodrigo Monteiro, Zezé e Gê Tuiuti)

“Vem, vem no bailar da melodia/ O rei do samba poesia/ Fruto de uma “joia rara”/ Vai, vai seguindo o seu destino/ Foi assim desde menino/ Canções e poemas de amor/ Doce bárbaro, hoje canto pra você/ Filho de Gandhi, és tesouro da Bahia/ Sua música irradia “alegria”/ Tropicalista na sua filosofia/ O artista consagrado, filho de dona Canô/ Para o mundo despontou/ “Sem lenço e sem documento”, eu vou/ Vou na lavagem do Bonfim, nosso Senhor/ Deixou a sua marca na história/ Bradou o grito de uma nova era/ Brilhou a sua estrela em aquarela/ E hoje vamos brincar na passarela/ Adoça a bossa no mel da “abelha rainha”/ Tem samba no pé, “oh, baby”, “oh, neguinha”/ Afina o coro com a minha bateria/ Caetano é o rei dessa folia/ Homenagem sincera, uma prova de amor/ Ao nosso poeta de raro valor/ É Caetano Veloso que vem aí / No Paraíso do Tuiuti”.

Fonte: Terra